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Os Verdadeiros Valores Familiares

Tudo o que fazemos como pais afeta o comportamento de nossos filhos. É por isso que é importante para nós defendermos os verdadeiros valores familiares, que não devem de forma alguma ser confundidos com a agenda política dos “fundamentalistas” para impor sua moralidade no mundo. Os verdadeiros valores familiares são a antítese do individualismo, que só pode prejudicar todo e qualquer relacionamento comunitário que tentamos construir.
Quando o individualismo prevalece, o egoísmo supera tudo o mais, pois os ideais que cercam qualquer forma de grupo social começam a decair. Os próprios grupos podem continuar a existir, mas apenas como conchas do que deveriam ser. Tornam-se conjuntos disfuncionais de indivíduos, em vez de totalidades sinérgicas. O grupo deve ser uma extensão do eu, não uma contradição dele.
Os pais de hoje muitas vezes abraçam o egoísmo dos “instintos parentais”, pensando que tudo o que precisamos saber sobre a criação de um filho está enraizado em nós. Isso pode funcionar para os animais, mas eles não têm as emoções complexas e a grande quantidade de necessidades e desejos que nós humanos temos. A paternidade é uma jornada de descoberta que vem com o aprendizado de tudo o que precisamos saber para ajudar a criar nossos filhos com aqueles que já passaram por isso. Você só precisa da humildade de admitir que não sabe tudo e está disposto a aprender ou fazer o que for preciso para cumprir suas obrigações como pai. Ao mesmo tempo, antes da invenção dos meios de comunicação de massa, este era um dos propósitos das tribos.

Em uma tribo, os pais podiam compartilhar as técnicas testadas ao longo do tempo que garantiriam seu sucesso na criação de seus filhos e filhas. Sem essa conexão pessoal com a comunidade, muitos são deixados à procura de respostas no escuro, esperando encontrar o caminho certo para suas famílias. Outros simplesmente seguem os movimentos e esperam o melhor.
Famílias disfuncionais tornaram-se a norma em nossa sociedade, apenas nos últimos vinte anos. Isso é inaceitável. Embora não julguemos aqueles que não têm escolha a não ser viver em tais condições, é importante trabalharmos para um padrão mais alto, onde as famílias tenham uma mãe e uma figura paterna em um ambiente saudável e amoroso. Para aqueles que vivem em lares desfeitos ou em ambientes insalubres, é seu trabalho quebrar o ciclo quando chegar a hora de ter sua própria família. Mais uma vez, o individualismo é o culpado pela falta de unidades familiares fortes e funcionais em nossas terras, pois não se pode criar uma estrutura social saudável se seus próprios interesses vêm em primeiro lugar. E aqui está o problema: a mãe pode gritar o tempo todo porque suas emoções e como ela as expressa são mais importantes do que o impacto que isso pode ter em seus filhos; Papai pode beber muito porque suas indulgências devem vir antes de um lar seguro e harmonioso para toda a família. Alguns até mantêm seus filhos dependentes deles por causa de seus desejos e necessidades.
Quando nos tornamos pais, não somos mais o Eu, nos tornamos parte de algo maior que isso, que deve vir com a percepção de que não estamos em primeiro lugar! Não pense, também, que é tarde demais para lidar com quaisquer circunstâncias negativas que infectam sua vida doméstica. Nunca é tarde para lidar com problemas, mesmo que sejam de longa data, você só precisa primeiro reconhecer se e quando há um, então ter a coragem de lidar com ele. Isso pode ser difícil para muitos; porque sentem que, se admitirem que há um problema, são um fracasso como pais.

O que é engraçado é que quando você admite isso e trabalha para corrigi-lo, é exatamente isso que destaca seu sucesso!
Você não pode varrer a negatividade para debaixo do tapete e esperar que ela desapareça, seus problemas podem se acumular até explodir na sua cara. Você tem que ser proativo em encontrar soluções apropriadas para quaisquer problemas que surjam em você. Esta é a marca registrada de relacionamentos familiares bem-sucedidos.

As “mulheres empoderadas” de hoje são mais fracas que as mulheres do passado

As mulheres da geração de nossas bisavós criaram filhos e ganharam a vida durante a Grande Depressão. Eles o fizeram com muita coragem, engenhosidade e determinação. Elas eram mulheres de verdadeira força e deveriam ser consideradas os modelos de “mulheres empoderadas”.

Comparar o retrato da mulher típica da era da Grande Depressão com o da feminista de hoje é esclarecedor.

As mulheres trabalharam duro durante a Grande Depressão para ajudar a prover.

Na década de 1930, após o crash da bolsa, o número de mulheres na força de trabalho aumentou drasticamente. Seus empregos – principalmente no setor de serviços – muitas vezes estavam longe de ser glamourosos, mas permitiam que as mulheres ajudassem a sustentar suas famílias durante o período difícil.

Muitas trabalhavam enquanto continuavam a cumprir seu papel de dona de casa. Essa tarefa tornou-se bastante desafiadora durante a Grande Depressão, pois o dinheiro e os recursos eram escassos. Em vez de reivindicar a vitimização, as mulheres corajosas dos anos 30 enfrentaram dificuldades de frente e encontraram maneiras criativas de superar. Eles esticaram e economizaram seus dólares suados realizando tarefas laboriosas, como costurar as roupas da família e enlatar frutas e legumes. Se não podiam trabalhar fora de casa, dobravam suas tarefas domésticas, lavando, remendando e limpando para outras pessoas que estivessem dispostas a pagar.

Elas esticavam seus dólares suados costurando as roupas da família e conservando frutas e legumes.

Além disso, as mulheres nos anos 30 costumavam cuidar e prover muito mais pessoas do que as de hoje, já que o tamanho médio das famílias na década de 1930 era de 4,11 (em comparação com a média atual de 2,53). É raro ver uma mulher moderna que deu à luz e criou uma dúzia de filhos, mas a visão era bastante comum naquela época.

A Feminista Moderna Gosta de Conveniência e Conforto

As mulheres da Grande Depressão se viraram sem as conveniências e luxos modernos que hoje temos como garantidos. Eles contavam com sua própria astúcia, genialidade e vigor para fazer o que era necessário para a sobrevivência de suas famílias. Elas não evitavam suas inclinações naturais para a maternidade e o lar, mas assumiam as responsabilidades associadas ao papel da mulher com toda graça e coragem.

O feminismo, em sua missão rebelde de inspirar as mulheres a se tornarem ousadas e fortes, na verdade serviu para fazer o oposto. O feminismo criou uma geração de mulheres que é, de fato, mais fraca do que as que vieram antes de nós.

Uma vítima não pode ser forte enquanto chafurda em sua vitimização.

A feminista típica de nossos dias é uma mulher jovem, com formação universitária, sem filhos. Ela desfruta de um bom salário e dos confortos de uma sociedade rica. Ela não se esforça para aperfeiçoar as artes domésticas, como a onda do feminismo na década de 1960, que expulsou as mulheres de casa para a força de trabalho, foi estimulada pela invenção e/ou prevalência de muitas conveniências, como refeições congeladas, máquinas de lavar , e aspiradores. A feminista moderna desfruta de toda essa facilidade e conforto, mas também sofre sob o peso de seu status de vítima.

O movimento feminista, nascido em grande parte das frustrações de Betty Friedan e mulheres de mentalidade semelhante que guardavam amargura em relação aos homens, há muito tempo faz as mulheres sentirem que são vítimas que devem grandes reparações. Essas reparações, afirma o feminismo, virão na forma dos direitos de desempenhar as funções dos homens – o grupo que, segundo as feministas, há muito pisoteou as liberdades das mulheres. Essas reparações, sustenta o feminismo, vão empoderar as mulheres, fazendo-as se sentirem fortes e “ferozes”. Essa lógica não é boa e na verdade produz o efeito oposto ao pretendido.

Encontrando força ao abraçar sua feminilidade

Ao afirmar que a feminilidade – que está ligada às funções e habilidades naturais das mulheres – não empodera ou não pode empoderar uma mulher, o feminismo sustenta que uma mulher nunca pode ser forte abraçando sua verdadeira identidade. Em vez disso, ela deve ir contra si mesma e se tornar como seu chamado opressor para alcançar novas alturas. Sua força, portanto, não vem de dentro.

Não é assim que nossas bisavós entendiam sua feminilidade. Eles não se viam como vítimas, mas sim como bastiões do lar, da comunidade e, de fato, de toda uma cultura. Sua força nasceu de uma percepção e aprimoramento de suas habilidades únicas de contribuir, crescer e sustentar o mundo em que viviam – por mais cruel que esse mundo possa ter sido. As mulheres naqueles dias entendiam as diferenças biológicas entre machos e fêmeas e as viam como naturais e boas. Eles se orgulhavam de ter filhos e criar, cuidar do lar e, muitas vezes, até fornecer uma renda para sua família. A força delas vinha de dentro – de uma compreensão de sua verdadeira identidade.

Nossas bisavós se viam como os bastiões do lar e da comunidade.

A feminista moderna, incapaz (ou relutante) de compreender sua dignidade como mulher, gasta muita energia racionalizando sua vitimização. Ela grita sobre a mítica diferença salarial, a falsa narrativa de oportunidades educacionais desiguais e a chamada cultura do estupro. Ao contrário das mulheres da Grande Depressão que viram aflições reais e trabalharam humildemente para sobreviver e conquistar, as feministas de hoje recorrem a protestos barulhentos sobre lesões que muitas vezes são imaginadas ou fabricadas. Uma vítima não pode ser forte enquanto chafurda em sua vitimização – seja real ou artificial.

Considerações finais

O próprio movimento que busca criar uma geração de mulheres mais fortes, de fato, enfraqueceu as mulheres dizendo-lhes que elas são vítimas de uma sociedade opressora. As mulheres estariam muito melhor se olhássemos para as mulheres de coração de leão do passado e seguíssemos seu exemplo, avançando com confiança em nossa feminilidade e em todos os dons e habilidades que ela confere.

Retirado de eviemagazine.com

Os Ritos da Masculinidade: A Necessidade do Homem por Rituais

A vida moderna parece terrivelmente superficial para você? Uma paisagem sombria sem camadas, ritmo, interesse, textura?

Você já foi assombrado pela pergunta “Isso é tudo o que existe?”

Você já olhou para uma foto antiga e sentiu que a cena continha uma riqueza tão inexplicável que parecia que você poderia praticamente entrar nela?

A planura estéril da vida moderna está enraizada em muitas coisas, incluindo o consumismo irracional, a ausência de desafios significativos e a falta de valores e normas compartilhados, ou mesmo tabus compartilhados contra os quais se rebelar. mas qual é a solução?

Muitos seriam rápidos em dizer fé, ou filosofia, ou relacionamentos. Todas boas respostas.

Mas o que é que vivifica as crenças na medida em que podem transformar sua perspectiva não apenas por uma hora no domingo, mas também nos momentos mundanos ao longo da semana? O que pode mover uma compreensão de verdades abstratas de sua mente para seus próprios nervos? O que pode transformar laços superficiais com os outros em laços profundos e significativos?

A resposta que sugiro é ritual.

Nosso mundo moderno é quase desprovido de rituais diários – pelo menos na forma como tradicionalmente pensamos neles. As que ficam – como as que giram em torno das férias, entes queridos e práticas cotidianas – perderam em grande parte seu poder transformador e muitas vezes são mais suportadas do que desfrutadas, participadas como uma passagem obrigatória dos movimentos. O ritual tornou-se hoje associado ao que é mecânico, vazio, sem sentido.

No entanto, todas as culturas, em todas as partes do mundo, em todas as épocas, se envolveram em rituais, sugerindo que eles são uma parte fundamental da condição humana. Os rituais já foram chamados de nossa forma mais básica de tecnologia – eles são um mecanismo que pode mudar as coisas, resolver problemas, realizar certas funções e alcançar resultados tangíveis. A necessidade é a mãe da invenção, e os rituais nasceram da perspectiva clara de que a vida é inerentemente difícil e que a realidade não adulterada pode paradoxalmente parecer incrivelmente irreal. Os rituais têm sido por eras as ferramentas que os humanos têm usado para liberar e expressar emoções, melhorar seu bem-estar, construir sua identidade pessoal e a identidade de sua tribo, criar um sentimento de pertencimento, trazer ordem ao caos, orientar-se no tempo e no espaço. , afetam transformações reais e trazem camadas de significado e textura para suas vidas. Quando os rituais são despojados de nossa existência, e esse anseio humano fundamental fica insatisfeito, inquietação, apatia, alienação, tédio, desenraizamento e anomia são o resultado.

Os Ritos da Masculinidade

No próximo ano, planejamos fazer posts detalhados sobre alguns dos rituais simples que têm sido mais centrais para o significado e a formação da masculinidade, como ritos de passagem, iniciações e juramentos. Esta semana estaremos lançando as bases para esses posts em dois artigos; o primeiro estabelecerá uma definição de ritual, e o segundo explorará as muitas maneiras pelas quais os rituais são tão vitais para uma vida plena e significativa.

Hoje, forneceremos um pequeno contexto sobre a natureza do ritual e por que ele desapareceu em grande parte das sociedades modernas e da vida cotidiana.

O que é um ritual?

De acordo com Catherine Bell, professora de estudos rituais e autora do livro-texto proeminente sobre o assunto, o ritual tem sido tradicionalmente definido como uma ação que carece de uma “relação prática entre os meios que se escolhe para alcançar determinados fins”. Por exemplo, apertar as mãos quando você conhece alguém pode ser considerado um ritual, pois não há razão real para que agarrar a mão de outra pessoa e apertar por um segundo ou dois leve a um conhecimento. É um gesto culturalmente relativo; podemos muito bem nos cumprimentar com um tapinha no ombro ou até mesmo sem nenhum contato físico. Como outro exemplo, lavar as mãos para limpá-las não é um ritual, pois existe uma relação prática clara entre sua ação e o resultado desejado. Mas se um padre joga água nas mãos para “purificá-las”, isso é um ritual e uma prática espiritual, já que a água é em grande parte simbólica e não serve para livrar as mãos de bactérias.

Bell lista seis atributos de rituais:

  • Formalismo: Esta é uma qualidade enraizada em contraste ao quão restritivo ou expressivo é o código de comportamento aceito para um determinado evento/situação. Por exemplo, um piquenique no quintal é muito casual e não parecerá um ritual porque há poucas diretrizes sobre como alguém pode se expressar. Um jantar muito formal, por outro lado, tem uma gama mais limitada de comportamentos aceitos e, portanto, pode parecer bastante ritual. Bell argumenta que, embora às vezes vejamos a formalidade como sufocante, uma vez que restringe a expressão mais espontânea, as atividades formalizadas não são “necessariamente vazias ou triviais” e “podem ser esteticamente e politicamente atraentes, invocando o que um analista descreve como 'uma gama metafórica de poder considerável, simplicidade e franqueza, vitalidade e ritmo.” A restrição de gestos e frases a um pequeno número que é praticado, aperfeiçoado e logo bastante evocativamente familiar pode dotar essas atividades formalizadas de grande beleza e graça.”
  • Tradicionalismo. Rituais são muitas vezes enquadrados como atividades que carregam valores e comportamentos que estão em vigor desde a criação de uma instituição. Essa ligação com o passado dá poder e autoridade ao ritual e proporciona ao participante uma sensação de continuidade. O ritual pode simplesmente remeter àqueles que vieram antes, como quando os graduados universitários vestem os vestidos que antes eram típicos de uso diário em sala de aula para acadêmicos, ou pode realmente procurar recriar um evento de fundação – como na celebração americana do Dia de Ação de Graças.
  • Invariância disciplinada. Invariância disciplinada. Muitas vezes visto como uma das características mais definidoras do ritual, esse atributo envolve “um conjunto disciplinado de ações marcadas por repetição precisa e controle físico”. Pense nos soldados marchando em passo de treino ou no padrão de sentar/levantar/ajoelhar seguido pelos católicos durante o curso de uma missa. A invariância disciplinada suprime “o significado do momento pessoal e particular em favor da autoridade atemporal do grupo, suas doutrinas, ou suas práticas” e “subordina o indivíduo e o contingente a um senso de abrangente e duradouro”.
  • Governança por regras. Os rituais são frequentemente regidos por um conjunto de regras. Tanto a guerra quanto o atletismo são exemplos de atividades que podem ser bastante ritualísticas quando suas regras regulam o que é e o que não é aceitável. As regras podem tanto verificar quanto canalizar certas tensões; por exemplo, o jogo de futebol canaliza a agressão masculina em uma forma de violência ritualizada e controlada. Às vezes, as regras falham em verificar suficientemente a tensão que está sempre borbulhando na superfície, como quando uma briga caótica irrompe entre os jogadores. O fato de o jogo refletir uma tensão submersa semelhante dentro da sociedade em geral é parte do motivo pelo qual o público acha o ritual tão atraente.
  • Simbolismo sacro. O ritual é capaz de pegar objetos, lugares, partes do corpo ou imagens comuns ou “profanos” e transformá-los em algo especial ou sagrado. “Sua sacralidade”, escreve Bell, “é a maneira pela qual o objeto é mais do que a mera soma de suas partes e aponta para algo além de si mesmo, evocando e expressando valores e atitudes associados a ideias maiores, mais abstratas e relativamente transcendentes. .” Assim, algo como o incenso pode ser uma mera mistura de plantas e óleos destinados a perfumar um quarto, ou, quando balançado de um incensário em um espaço sagrado, pode representar a oração dos fiéis subindo ao céu.
  • Performance. Performance é um tipo particular de ação – daquelas que são feitas para um público. Um ritual sempre tem um público-alvo, mesmo que esse público seja Deus ou ele mesmo. Tom F. Driver, professor de teologia, argumenta que “performance… significa tanto fazer quanto mostrar”. Não é uma questão de “mostrar e dizer, mas fazer e mostrar”. Humanos são atores inerentemente, que desejam se ver como personagens em uma narrativa maior e desejam o tipo de drama inerente a todo conto atemporal. Os rituais funcionam como dramas narrativos e podem satisfazer e liberar essa necessidade. Na ausência de ritual, as pessoas recorrem a fazer seu “show” nas redes sociais e criar seu próprio drama – muitas vezes por meio de relacionamentos ou substâncias tóxicas.

Quanto mais desses atributos um comportamento/evento/situação invocar, mais diferente da vida cotidiana e parecido com um ritual parecerá. Quanto menos desses atributos estiverem presentes, mais casual e comum ela parecerá.

Para uma definição mais simples de ritual, aqui está uma que funciona: pensamento + ação. Um ritual específico consiste em fazer algo em sua mente (e muitas vezes sentir algo em seu coração), ao mesmo tempo em que o conecta a fazer algo com seu corpo em uma série de ações.

Tais rituais se enquadram em uma ampla variedade de categorias. O teórico Ronald Grimes lista 16 delas:

  • Ritos de passagem
  • Ritos de casamento
  • Ritos funerários
  • Festivais
  • Peregrinações
  • Purificações
  • Cerimônias civis
  • Rituais de troca (Como um sacrifício dos crentes aos deuses na esperança de receber bênçãos do divino)
  • Adorações
  • Magia
  • Ritos de cura
  • Ritos de interação
  • Ritos de meditação
  • Ritos de inversão (rituais de inversão, onde a violação das normas culturais é permitida temporariamente, como em homens se vestindo como mulheres)
  • Sacrifício
  • Drama ritual

O importante a entender sobre os rituais é que eles não se limitam a eventos muito grandes e muito formais. Os rituais podem de fato ser grandes ou pequenos, privados ou públicos, pessoais ou sociais, religiosos ou seculares, unindo ou dividindo, conformistas ou rebeldes. Funerais, casamentos, inaugurações presidenciais, serviços religiosos, batismos, iniciações fraternas e ritos de passagem tribais são todos rituais. Apertos de mão, encontros, rotinas matinais, cumprimentos e despedidas, tatuagens, boas maneiras à mesa, sua corrida matinal e até cantar a música Feliz Aniversário também podem ser rituais.

O Declínio dos Rituais?

Em muitas sociedades tradicionais, quase todos os aspectos da vida eram ritualizados. Então, por que há uma escassez de rituais na cultura moderna?

A adoção do ritual no mundo ocidental foi primeiro enfraquecida por duas coisas: o movimento da Reforma Protestante contra os ícones e o cerimonialismo e a ênfase do Iluminismo no racionalismo.

O historiador Peter Burke argumenta que “a Reforma foi, entre outras coisas, um grande debate, sem paralelo em escala e intensidade, sobre o significado do ritual, suas funções e suas formas próprias”. Muitos protestantes concluíram que o tipo de ritual que a Igreja Católica praticava dava muita ênfase às formas externas vazias, em vez do estado de graça interno. Eles rejeitaram a “eficácia mágica” dos ritos para poder fazer coisas como transformar pão e vinho no corpo e sangue literais de Cristo.

A eficácia mágica do ritual foi atacada do outro lado pelos pensadores do Iluminismo. Como discutido acima, o ritual é inerentemente não racional, uma vez que não há relação prática entre a ação e o resultado final. Não é racional pensar que pintar o corpo antes da batalha oferecerá proteção, que um rito de passagem pode transformar um menino em homem, ou que fumar um cachimbo da paz pode selar um acordo de paz. Assim, o ritual passou a ser associado às superstições dos povos primitivos.

A suspeita de ritual voltou a crescer após a Segunda Guerra Mundial, na esteira da maneira como as cerimônias rituais foram usadas para solidificar a lealdade à causa nazista.

A adoção cultural do ritual começou a se desfazer durante os movimentos sociais da década de 1960, que enfatizavam a liberdade de expressão, a liberdade pessoal e a realização emocional individual acima de tudo. Rituais – que prescrevem certos comportamentos disciplinados em certas situações e exigem que uma pessoa abra mão de parte de sua individualidade a serviço da sincronia e identidade do grupo – restringem a espontaneidade e a capacidade de fazer o que quiser. Assim, o ritual passou a ser visto como muito constrangedor e não suficientemente “autêntico”.

Por essas razões, o uso e a participação em rituais, incluindo rituais saudáveis, foram bastante reduzidos. Ou talvez, como argumenta o historiador Peter Burke, acabamos de substituir antigos rituais por novos: “Se a maioria das pessoas nas sociedades industriais não vai mais à igreja regularmente ou pratica elaborados rituais de iniciação, isso não significa que o ritual tenha declinado. Tudo o que aconteceu é que os novos tipos de rituais – políticos, esportivos, musicais, médicos, acadêmicos e assim por diante – tomaram o lugar dos tradicionais.” Mas os novos rituais – assistir a esportes, ir a festivais de música, checar o Facebook, fazer compras, visitar um clube de strip no seu aniversário de 18 anos – são levianos e não nos satisfazem. Os rituais tradicionais forneciam um mecanismo pelo qual os humanos podiam canalizar e processar o que era difícil de lidar – morte, maturação, agressão – permitindo ao participante descobrir novas verdades sobre si mesmo e o mundo. Novos rituais, se é que podem realmente ser chamados assim, tentam negar qualquer coisa feia na vida (para não levar você a fechar sua carteira) e apresentam uma fachada brilhante e lustrosa – “cultura do confete” – que facilita o consumo passivo e afasta a análise das suposições dadas.

Em nosso próximo post, argumentaremos que, apesar do desdém cultural pelo mais simples ritual, este é uma forma de arte e prática humana que deve ser revivida para que possamos experimentar os seus benefícios. É verdade que o ritual pode ser usado para o bem ou para o mal, mas seu benefício é tão grande que o medo do mal não deve nos levar a jogar fora o bebê junto com a água do banho. Mesmo que um homem não veja lugar para rituais em sua fé ou em rituais supersticiosos, ele pode fazer grande uso deles em outras áreas de sua vida (de fato, se sua fé é completamente não ritualizada, ele tem ainda mais necessidade de outros tipos de rituais). Argumentaremos que mesmo o homem mais racional pode abrir espaço em sua vida para alguma “mágica” e que, embora o ritual possa parecer constrangedor, paradoxalmente pode ser incrivelmente empoderador e até libertador para o bem-estar e a saúde mental dos homens. Como isso pode ser assim, é para onde nos voltaremos da próxima vez.

Retirado e traduzido de artofmanliness.com

Sêneca diante da morte

Lúcio Aneu Sêneca era homem de grandes defeitos. Assumidamente, aliás. Sobre sua atuação como político e a conveniência de sua filosofia com a vida que levou, as opiniões sempre divergiram bastante. Homem vastamente rico, não foram poucos os que o acusaram de hipocrisia por dizer, como estoico, que os bens materiais eram coisa indiferente — embora nenhum contemporâneo tenha afirmado que vivesse em fasto escandaloso. Sua proximidade com Nero tornava-o detestável a boa parte do Senado; fora preceptor do futuro imperador, a pedido da mãe deste, Agripina, e enquanto teve ascendência sobre o jovem monarca, nos primeiros anos do reinado, o Império teve boa administração. As relações entre imperador e seu antigo mestre deterioram-se progressivamente, à medida que o caráter tirânico de Nero tornou-se mais e mais manifesto. Sêneca, entretanto, continuou gravitando em torno do poder imperial, talvez por pensar que fosse possível mitigar a crueldade do soberano por meio de sua influência — no que falhou redondamente. Em 62, com a morte de Sexto Afrânio Burro, chefe da guarda pretoriana, o imperador sentiu-se ainda mais confortável para eliminar agentes políticos incômodos. A descoberta da conspiração de Caio Calpúrnio Pisão, três anos depois, deu a Nero o pretexto que faltava para livrar-se de Sêneca e de outras figuras proeminentes.

Nos últimos anos, viveu em reclusão em suas propriedades no sul da Itália, dedicando-se unicamente ao estudo e à escrita. Era da opinião que, quando o ambiente político está corrompido demais, o único meio que tem o filósofo para ser útil aos outros é meditar e escrever pensando na posteridade. Foi assim que surgiram as Cartas a Lucílio, correspondência que trata de diversos temas de natureza ética e que bem se pode considerar como seu testamento filosófico. Na obra, lê-se, por exemplo, esta admissão de Sêneca:

Para que me servirá então o ócio senão para tratar das minhas feridas? se eu te mostrar o pé inchado, a mão coberta de manchas, a perna mirrada com os nervos esclerosados — certamente me permitirás que eu fique em repouso e tente sanar a minha doença. pois fica sabendo que um mal ainda maior é este que te não posso mostrar: este tumor, este inchaço que reside no meu peito. não, eu não pretendo que me cubra de louvores, ou me chames um homem admirável que se retirou por desprezar a sociedade e condenar todas as paixões que afligem os homens! uma coisa apenas eu condenei: a mim mesmo! não deverás aproximar-te de mim na esperança de que eu possa ser-te útil. estás enganado se pensas que podes encontrar aqui algum auxílio: quem mora nesta casa é um doente, não um médico. prefiro que, ao saíres da minha casa, digas assim: “e pensava eu que este homem atingira a felicidade e a sabedoria, aprontava-me para escutar a sua palavra! que desilusão! nada aqui vi ou ouvi que provocasse em mim o desejo de voltar!”. se pensares e falares assim, a tua visita não terá sido inútil: antes quero que compreendas o meu ócio que o invejes!…(Cartas a Lucílio, LXVIII, 7-9)

Quaisquer que tenham sido suas faltas e incoerências, não se pode negar a Sêneca o mérito de ter-se portado com coragem e tranquilidade — se não exemplares, ao menos suficientes — diante da morte. E, do ponto de vista estoico, isso é tudo o que importa, é a virtude por excelência.

Sêneca foi acusado por Nero de envolvimento com os conspiradores que apoiavam a ascensão de Pisão ao trono. Depois de cear com sua esposa Pompeia Paulina, já sabendo o que o imperador decerto lhe destinaria, ele pôs-se à espera da sentença. Um centurião foi enviado à casa do velho preceptor, levando-lhe a ordem imperial de suicidar-se. O relato de Cornélio Tácito a esse respeito merece ser transcrito:

Sêneca, sem nenhum temor, pediu tábuas para redigir um testamento e, com a negativa do centurião, voltando-se a seus amigos, disse-lhes que, dado que estava impedido de gratificar os méritos destes, deixava-lhes um único bem, ainda que fosse o mais belo que lhes podia dar, que era a imagem de sua própria vida; da qual, se tivessem memória do que ela tivera de estimável, estariam pagos com a honra de uma amizade tão constante. Junto a isso, ante as lágrimas deles, já com palavras amorosas, já com severidade à guisa de correção, procurava reconduzi-los à firmeza de ânimo, perguntando-lhes onde estavam os preceitos de sabedoria, onde a resolução de conduta preparada durante tantos anos para opor-se a qualquer adversidade iminente? Havia alguém que ignorasse a crueldade de Nero? E que estava faltando àquele que ordenara o assassinato da mãe e do irmão senão mandar matar também o que fora seu educador e preceptor?

Depois de ter feito tais considerações e outras semelhantes a seus amigos todos, ele abraça sua esposa, e um tantinho emocionado em vista dos temores do momento, faz-lhe exortações e pede-lhe que tratasse de temperar, e não de eternizar, a dor pela perda de um marido, mas que ela a suportasse tomando honesto consolo na contemplação de uma vida dedicada à virtude. Ela, por seu turno, afirmando que também tinha tomado a resolução de morrer então, pede com grande instância a mão de um matador. Com isso, Sêneca, não querendo impedir-lhe a glória e ao mesmo tempo amando-a com ternura, para não abandonar a mulher que fora tão cara a si e só a si às injúrias, diz-lhe: “Eu te havia indicado os conselhos de que tinhas necessidade para levar a vida adiante, mas vejo que escolhes a glória da morte. Não penso mostrar que te tenho inveja ao exemplo que hás de dar de ti, nem estorvar-te essa honra. Seja igual em nós dois a constância de nosso generoso fim, ainda que seja certo que o teu será mais resplendente”. Depois disso, cortaram-se ao mesmo tempo as veias dos braços pelo mesmo ferro. Sêneca, que tinha o corpo muito velho e enfraquecido por larga abstinência, a ponto de fazer derramar sangue muito lentamente, cortou também as veias das pernas e dos tornozelos. E extenuado pela crueldade daqueles tormentos, para não afetar com as mostras de sua dor o ânimo da esposa e para ele mesmo não cair em fraqueza vendo o que ela padecia, persuade-a a que se retire a outro aposento. E servindo-se de sua eloquência até aquele último momento de sua vida, chamando quem escrevesse, ditou muitas coisas que, por terem ficado no vulgo com as mesmas palavras, deixarei de registrar.

Nero, porém, sem nutrir contra Paulina nenhum ódio pessoal e temendo que sua crueldade se tornasse odiosa demais, ordenou que a impedissem de morrer. Sob os rogos dos soldados, seus escravos e libertos pensaram-lhes as feridas dos braços e estancaram-lhe o sangue. Ignora-se se isso foi contra a vontade de Paulina; pois no vulgo, inclinado às piores interpretações, não faltou quem acreditasse que ela tinha procurado partilhar da honra da morte de seu marido enquanto suspeitou que Nero fosse implacável, mas que, depois, quando uma esperança mais doce lhe tinha sido oferecida, ela acabou vencida pelas branduras da vida. Viveu ela ainda alguns anos, fiel à memória de seu esposo, conservando uma palidez extrema que mostrava quanto de sua força vital se lhe tinha esvaído. Entretanto Sêneca, vendo o sangue verter-se com tanta dificuldade e a morte vir tão devagar, solicitou a Estácio Aneu, em quem sabia por experiência ser dotado de uma amizade fiel e da arte da medicina, que lhe trouxesse um veneno já preparado de antemão: o mesmo que se dava aos condenados por julgamento público em Atenas. Sêneca tomou-o, mas foi em vão: seus membros já estavam frios, e o corpo não podia dar livre curso ao efeito do veneno. Enfim, ele entrou em uma banheira de água quente e aspergindo os escravos que lhe estavam mais próximos, acrescentou: “Ofereço esta libação a Júpiter Liberador”. Em seguida foi levado a um aposento de estufa, onde o vapor o sufocou. Seu corpo foi cremado sem pompa solene, como antes o ordenara em seu testamento, enquanto, ainda muito rico e muito poderoso, pensava no que se faria em seus momentos derradeiros.

(Tácito, Anais, XV, 62-64)

Diante da morte, Sêneca foi orgulhoso? Parece que sim: comprova-o sobretudo o fato de ter tentado morrer emulando Sócrates (no que, aliás, falhou por causa da debilidade de seu corpo). Pomposo? Está claro: nem mesmo em seus últimos instantes deixou de discursar a seus amigos e discípulos, e é pena que Tácito não tenha referido suas palavras finais, que acabaram perdidas. O pouco que sabemos delas, contudo, permite-nos inferir que não foram isentas de sabedoria, quadrando bem ao ato. Além disso, devemos reconhecer que o relato dos Anais, aparentemente tão desprovido de idealizações neste ponto, é capaz de dar-nos Sêneca por inteiro, com seus defeitos, mas também com a sua grandeza final. Ele não logrou ter uma morte como a de Sócrates ou de Catão de Útica (seus modelos), mas teve suficiente destemor e paciência para arranjar um meio de deixar a vida com dignidade.

E acaso alguém pensa que uma pessoa de bem deixa aos outros algo de mais seguro e duradouro que o próprio exemplo, do que a imagem de sua vida (imago vitæ suæ)?

Retirado de socientifica.com.br

Sobre os laços fortes resultantes do compartilhamento de comida e bebida

Quando o rei Magnus, talvez um pouco de surpresa, tentou vincular Swein Estridson à sujeição como seu vassalo, ele não apenas lhe ofereceu uma capa, mas acrescentou a ela uma tigela de hidromel. Swein não vestiu a capa e provavelmente também não provou o hidromel; ele temia tanto o último quanto o primeiro.

Tudo o que um presente pode fazer, comida e bebida também podem trazer; pode significar honra ou desonra, pode ligar e desligar, dar boa fortuna e agir como uma face à sorte.

Os homens bebiam uns aos outros, como dizia o ditado nos tempos antigos; assim como se bebe em um casamento com uma mulher e assim a atrai para seu próprio círculo, também se bebe para o próximo, de modo a alcançá-lo, obtê-lo e atraí-lo para o seu entorno.

Portanto, uma resposta como esta: “Desfrutei de sua hospitalidade” é suficiente para justificar um homem em uma recusa direta de participar de uma ação contra seu antigo anfitrião, e o argumento pode talvez forçar um homem a tomar o partido oposto ao que seria seu lugar naturalmente. Embora seja apenas um bocado, pode, em um momento fatídico, ser suficiente para dar uma virada decisiva para o futuro.

Certa vez, o rei Magnus estava sentado comendo carne a bordo de seu navio. Um homem atravessou o convés e subiu no tombadilho alto onde o rei estava sentado, partiu um pedaço do pão e comeu. O rei olhou para ele e perguntou seu nome. “Eu me chamo Thorfin.” “Você é o conde Thorfin?” – “Sim, assim os homens me chamam no oeste.” — “É verdade, Earl, eu tinha em mente, se alguma vez nos encontrássemos, cuidar para que você não dissesse nada a ninguém da nossa reunião; mas depois do que aconteceu agora, não caberia a mim matá-lo.” E não havia questões desprezíveis pendentes entre os dois: Thorfin havia pregado uma piada feia sobre os planos de soberania do rei, matado seu parente Rognvald, a ferramenta dos planos políticos do rei nas ilhas do oeste, e varreu com muita ingenuidade os servidores do rei para fora do tabuleiro.

A comida tem o mesmo poder que um presente para revelar o pensamento e rede do coração. Da cerveja surgem honra e desonra, ela pode elevar um homem em sua autoestima e liberar nele todos os maus espíritos de uma afronta. O rei honra seu convidado bebendo com ele sua boa bebida e deixando o chifre ser levado ao seu lugar, e os convidados honram uns aos outros bebendo do mesmo copo; ao longo de toda a Idade Média e até nossos dias, os homens continuaram a respeitar o cálice de honra. Quem quiser evitar ofender o casal nupcial deve beber de sua “taça de honra”, como ainda é chamado entre os camponeses modernos. Quando os iguais estão sentados lado a lado à mesa, eles observam com ciúmes para ver que seus avanços são totalmente apreciados, e consideram um insulto terrível se aquele com quem eles bebem não consegue “fazer o que é certo” – se recusa a aceitar a bebida, ou mostra a mornidão de seus sentimentos bebendo apenas metade; e um chefe exibe a maior meticulosidade ao que é entregue a ele e a quem se oferece como companheiro de bebida. O rei Harald considerou uma desgraça sentar e ser embriagado pelo meio-irmão do rei Magnus, Thorir, e deu vazão a seus sentimentos em um verso desdenhoso com uma alusão ao seu nascimento.

O medo das pessoas comuns de serem maltratadas bebendo juntas é tão violento que mostra que o instinto tem raízes profundas na própria dignidade humana. Quando os camponeses suecos, no século do Iluminismo, pulam e pegam suas facas porque não conseguem acompanhar suas respectivas sedes, dificilmente estão em posição de explicar sua indignação, exceto talvez por um antigo provérbio – cuja explicação está novamente séculos antes de seu próprio tempo – no sentido de que aquele que falha com um homem na bebida falhará com ele em outras coisas.

O término final de todas as diferenças é o compartilhamento de comida e bebida. Uma reconciliação não era válida até que fosse confirmada por uma refeição comum.

No ano de 577, Gunnthram e Childebert comeram e beberam juntos, e se separaram em sentimentos de amizade depois de terem honrado um ao outro com ricos presentes. Os contemporâneos pagãos de Adão de Bremen no Norte festejaram oito dias juntos quando concordaram em uma aliança, e as sagas islandesas contam com bastante frequência como a antiga frieza foi transformada em seu oposto pelas partes trocando presentes, jurando amizade mútua e convidando uns aos outros para um banquete.

A barganha por uma esposa era preparada com cautela e habilidade. Onde a própria barganha se enquadra em vários acordos menores: vestuário, noivado, casamento e ida para casa, cada item separado também deve ser confirmado com uma bebida. Quando os camponeses na Noruega, após o acordo provisório, primeiro se reúnem em uma “festa de cerveja para conversar sobre o assunto”, na casa dos pais da noiva, onde mais detalhes são organizados e o noivado confirmado, depois em uma festa correspondente com a família do noivo, e só então vão para o casamento, eles estão provavelmente fazendo apenas o que o costume antigo exigia.

Depois da barganha nupcial vem a barganha do presente, e exige sua confirmação à mesa. Aqui, lemos que a transação está sendo efetuada per cibum et polum, por comida e bebida, na casa do destinatário, e esta “per” tem a mesma força que o “por quem” que declara que um negócio ou um pagamento foi efetuado em e através do vadium², ou penhor, que a parte interessada apresentou. Talvez a solenidade de uma refeição entre nossos parentes do sul tenha ficado um pouco em segundo plano, o que pode ter alguma conexão com o culto fantasioso de presentes simbólicos que cresceu tanto na lei alemã; mas no Norte durou ainda mais obstinadamente do que a própria fé na promessa. Sem um copo para suavizar a despedida do porco recém-vendido e confirmar a alegria pelos dólares brilhantes pagos, dificilmente é possível, entre os camponeses, comprar ou vender, e se um homem tem um estômago fraco ou uma cabeça fraca, ele deve se desculpar com uma garantia de sua sinceridade: “A barganha vale, por tudo isso”.

Contar todos os negócios jurídicos que exigiam um “copo” na conclusão da barganha significaria dar uma lista de todos os negócios que poderiam ocorrer na sociedade germânica, e a demanda é mais profunda do que um impulso nebuloso de fazer o que é certo. A lei olha repetidamente para a liquidação convivial como um critério legal. A lei islandesa não confere legalidade a um casamento, a menos que seis pessoas tenham comido, bebido e negociado a aliança dos dois clãs, os suecos se contentam em registrar hábitos e costumes, dizendo, por exemplo: parentes devem ser convidados para um casamento até o terceiro grau, ou seja, até onde vai o relacionamento normal. Ou ainda, como no norueguês Bjarkeyajar rétt, a cerveja pode se tornar o árbitro, de modo que um filho pode ser declarado nascido em casamento legal quando sua mãe foi trazida através de preço de noiva* (mundr) e um barril de cerveja é comprado para o casamento e bebido na presença de dois noivos e duas noivas, um servo e uma serva.

Ainda há algo de vulnerável nesse velho meio de pacto, que poderia forçar os seres humanos a se unirem de tal forma que a menor ação sob sua influência se tora um fato de lei e direito. Quando a partilha do alimento pôde, com o tempo, tornar-se sinal de pacto, foi porque outrora se estabeleceu na experiência. A legalidade da ação decorreu do fato de que ambas as partes sentiram a mudança nelas e, assim, experimentaram a validade do novo estado; exigia-se que as grandes taças, das quais dependiam decisões importantes, fossem esvaziadas até a última gota, para que a vontade de manter a negociação pudesse ser firmemente assegurada.

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Um homem se rendia completamente ao seu oponente no momento em que lhe entregava o copo e bebia com ele; naquelas duas mãos estendidas uma para a outro com um recipiente, equilibrava-se um futuro que a menor incerteza poderia perturbar, para a desgraça de dois seres humanos.

Após a morte do rei lombardo Authari, sua rainha, Teodolinda, foi convidada pelo povo a aceitar a dignidade e escolher um marido com mão forte para governar o reino. Com o conselho de sábios, ela escolheu o duque Agilulfo de Turim e o convidou apressadamente para uma reunião. Os dois se conheceram em Laumellum e, depois de conversarem um pouco, ela trouxe vinho, bebeu primeiro e entregou o resto a Agilulf. Quando ele pegou a taça e tentou beijar sua mão, ela disse com um sorriso e um rubor que não era apropriado que ele beijasse sua mão, mas que deveria beijar seus lábios. Ela o mandou se levantar e falou com ele sobre casamento e governo.

Assim Paulus Diaconus. E aqui, seríamos maus leitores se não percebêssemos que a pequena cena tem uma tensão própria, grande o suficiente para dar origem a uma tragédia. Theodolind, com a taça, ofereceu sua própria honra e a entregou em sua mão, para fazer o que quiser; ela se uniu como Brynhild se uniu a Sigurd por seu voto de possuir aquele que cavalgava a chama; a hesitação da parte de Agilulfo em aceitar o voto e torná-lo realidade a lançaria em azar e forçaria sua vingança posterior.

Quer o futuro consista no casamento ou na nova aquisição de propriedade, o ato de beber juntos é dar e receber tanto a alegria do novo estado quanto o poder de desfrutá-lo. As duas partes beberam njótsminni, uma taça que poderia fazer o comprador njótr, aquele que deveria aproveitar a sorte da coisa; e a fórmula moderna de lídkøb – como é chamado o copo de negociação em dinamarquês – ainda contém uma breve ideia de todos os efeitos que o copo de compra produz no comprador e no vendedor, bem como na coisa transferida; embora eu não pretenda insinuar que o ritual seja transmitido desde os primeiros tempos.

O vendedor atesta o seu contentamento com o preço, garante que o artigo está completo e inteiro e será entregue à propriedade do outro inteiramente e para sempre, sem reservas, sem defeito, com a sorte nele; e a outra parte assegura-se de que o negócio está finalmente concluído e o liquidante satisfeito, garantindo de sua parte que o liquidante terá o pleno uso e valor do dinheiro.

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Podemos resumir a barganha germânica em uma imagem, na forma norueguesa de libertar um escravo. O escravo recebe sua liberdade – e, portanto, ele próprio é chamado frjálsgjaft – e pelo presente da liberdade ele paga sua taxa; mas até que ele tivesse segurado a cerveja da sua liberdade – comendo e bebendo com o homem que o libertou – ele não era visto socialmente como liberado de sua posição de dependência.

As pesquisas modernas encontram dificuldades infinitas em entender essa superfluidade de formas, preocupando seus cérebros com a questão do que a luva fazia, já que as posses dependiam da skeyting¹, e qual era o uso desta última, já que o vadium² era suficiente, e os homens lutavam com os vários símbolos como uma espécie de quebra-cabeça, que teve de ser resolvido por algum arranjo inteligente. A mesma dificuldade se aplica a quase todos os pontos da vida dos antigos; dar um nome a alguém e sua confirmação, noivado e casamento, presente nupcial e cerveja nupcial, são todos poderes absolutos, e ainda assim eles se dão tão bem juntos assim que são permitidos a agir fora de nossas cabeças eruditas. Nunca podemos chegar a nenhuma solução limitando o efeito dos atos individuais em relação uns aos outros, simplesmente porque seu poder de trabalhar em conjunto reside no fato de que todos são perfeitos em si mesmos e, portanto, cada um contém sua contraparte. A fé na ação única deve então, como seu equilíbrio, ter tanta seriedade, que a quebra da sequência adequada significa uma afronta por parte daquele que causou a perturbação e o infortúnio, pois não foi uma possibilidade perturbada, mas uma real barganha que foi quebrada e uma conexão espiritual que foi irregularmente rompida.

Dois antagonistas podem lavar a rixa em uma bebida comum, porque há algo forte no chifre, que cura toda desarmonia e sacia toda sede de vingança, e mais do que isso; algo que acalentava um novo sentimento. Eles sorvem a boa vontade diretamente. Portanto, a lei deve negar a um homem o direito de buscar a restituição de seu oponente quando ele, por sua própria vontade, compartilhou casa e comida com o antigo opositor. Como tudo no mundo, a bebida tem sua sorte peculiar, uma essência concentrada da hamingja pertencente à casa e sua família. Se uma noiva, ao dar o primeiro passo em direção à porta de sua nova casa, ou ao cruzar a soleira pela primeira vez, fosse oferecida a provar a comida e a bebida ali alojadas – como era o costume em tempos posteriores – era para que ela poderia ser iniciada e recebida no espírito que governava aquela casa, e tornar-se uma mente unânime com a casa. Na Suécia, e possivelmente também em outros lugares, não bastava que a noiva e o noivo esvaziassem a taça nupcial junto com seus parentes na casa nupcial; depois que a noiva foi entregue ao marido, todo o grupo se mudou para a casa do marido e lá celebrou um casamento. Em primeiro lugar, o acordo foi bebido rapidamente por todos os envolvidos; na segunda, o casal nupcial foi iniciado em sua nova existência.

Está na própria natureza da bebida que ela traga consigo o esquecimento de algo e a melhor lembrança de outras coisas; em sua poção mais forte, assimilou o bebedor consigo mesmo, e assim apagou seu passado a ponto de torná-lo um novo homem; trouxe aquele esquecimento que pode permitir que os fatos permaneçam, mas tira sua luz, sombra e realidade. Assim foi com Sigurd, quando a rainha, no salão de Gjuki, lhe entregou o chifre; assim que ele provou a bebida, ele esqueceu Brynhild e todas as suas promessas para ela, pensando apenas em quão esplêndida era Gudrun e que homens bons eram seus irmãos. O conteúdo do chifre é um cálice de memória quando é para despertar a alma, e um cálice de esquecimento quando é para desligar o passado; a cerveja em ambos os casos é a mesma, e o ingrediente principal nela é a forte cerveja caseira e não adulterada. A história do encantamento de Hedin, quando ele mata a rainha de seu irmão adotivo Hogni e leva sua filha, não precisa mais do que a explicação simples e óbvia de que ele uma vez na floresta encontrou uma mulher que lhe deu de beber de um “chifre de cerveja”, e quando bebeu, não se lembrava de nada do passado, nada de ter aceitado a hospitalidade de Hogni, ou se tornado seu irmão adotivo, ele tinha apenas um pensamento: que o conselho da mulher portadora de cerveja era a única coisa que se valia a pena ter seguir no mundo.

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Se um homem morria sozinho em uma terra estranha ou a bordo de um navio, era natural declarar seu companheiro de bordo seu herdeiro, não porque tal comunhão fosse considerada como refletindo o caráter do relacionamento familiar, mas porque a partilha da comida era o coração do clã e, de fato, de todo círculo cuja unidade era do mesmo tipo que a do círculo de parentesco. Sem uma renovação constantemente repetida do frith pela comida, e especialmente pela bebida que foi permeada pela própria sorte da casa, o vínculo se afrouxaria e o indivíduo murcharia; e quando lemos que ninguém poderia ser declarado incapaz de administrar seus próprios negócios enquanto pudesse beber cerveja e montar um cavalo – esvaziar seu copo e mover-se entre os homens sem ajuda de outros – havia uma igualdade entre os dois itens que não é mais óbvio. “Sentar-se no banco do hidromel” é uma expressão para estar ainda entre os vivos, que nada deve à licença poética.

-Vilhelm Grønbech

*Preço de noiva é o termo utilizado no Brasil correspondente ao Mundr
¹A transferência ou transmissão de propriedade fundiária. Em todos os países nórdicos, bem como na Inglaterra, pensa-se que este processo tenha sido acompanhado pela colocação simbólica da grama no manto (ON skaut) ou colo do adquirente. O ato é semelhante a um antigo costume legal franco de jogar uma vara no colo do novo proprietário e dá origem à ideia de um costume germânico comum de transferência de terras. Partes deste processo cerimonial são descritas em várias leis (por exemplo, GuL cap. 292 e a paráfrase de Arne Sunesen de SkL 78-80), mas em nenhum lugar é descrito em sua totalidade.

²Um acordo de hipoteca na antiga lei inglesa que dava a posse da terra hipotecada e o uso de seus aluguéis e lucros ao credor hipotecário até o momento em que a hipoteca fosse paga.

Retirado e traduzido de https://norroena.org

Apresentação

O mundo está em ruínas, a sociedade caminha para o abismo do egoísmo e da solidão acompanhada, as corporações da iniciativa privada ganham mais espaço e muitas são tão ou mais influentes que diversos países, a sacralidade do mundo foi esquecida, e tudo isso é resultado de um processo muito bem planejado e executado. Não é fruto do acaso.

Neste contexto, sabemos que o sentimento de revolta e inquietude atinge a muitos. No Brasil, aqueles que não se identificam com a esquerda festiva nem com a direita lesa-pátria tendem a se sentirem deslocados, desfiliados. É para este público que queremos escrever.

Sim, este é mais um blog “dissidente”. Dito isso, esclareço que não tenho a pretensão de criar um web-movimento, há muitos por aí. Se o mundo está em ruínas e a sociedade caminha para o abismo, não serei eu quem vai salvá-lo, tampouco creio que será o movimento x ou y. O que eu acredito é que cada um pode fazer a sua parte, dentro do possível, para contribuir com a construção do mundo que desejamos ver ou que desejamos que nossos filhos vejam, quando já não estivermos mais por aqui.

É por isso que neste espaço vou publicar textos traduzidos ou de autoria própria sobre os mais diferentes temas, sempre a partir da ótica tradicional e/ou de uma possível quarta teoria política, ou que sejam úteis de alguma forma ao público-alvo. Aproveito o momento para deixar claro que não sou “duginista”, acredito que Dugin fez um bom trabalho ao propor uma nova teoria política, mas seu papel pode muito bem terminar por aí. Não acredito em cultos de personalidades estrangeiras.

Espero que este material seja útil aos inquietos deste tempo e peço que se sintam à vontade para entrar em contato para comentar ou conversar sobre qualquer assunto abordado.